Parte 5...
Dom Jorge Marcos |
No fim de 1.970 fomos falar com Dom Jorge dizendo que, com as mudanças sociais no bairro de Santa Terezinha, percebíamos que havia na região bairros muito mais pobres e que poderíamos deixar Santa Terezinha para bairros mais periféricos, de acordo com a nossa vocação. Dom Jorge aprovou o nosso desejo e foi assim que em fevereiro de 1.971 o padre Roberto começou no bairro de Guaraciaba em Santo André, na capela (futuramente paróquia) de São Geraldo.
Em junho do mesmo ano, o padre José começou uma nova paróquia no bairro do Parque das Américas em Mauá, e em setembro, quando deixamos Santa Terezinha, o padre Pedro foi enviado ao Jardim Zaira em Mauá. Embora separados, os 3 padres continuavam a trabalhar em conjunto, vivendo também a sua vida religiosa, mas as dificuldades aumentavam.
Não podemos deixar de lado a situação do povo, muito oprimido pela ditadura militar que tinha começado em 31 de março de 1964. Foram anos de muitas dificuldades com a polícia política (o DOPS) vigiando, havendo muitas reuniões clandestinas.
O padre Pedro chegou no Zaira quando muitos membros da comunidade estavam presos e torturados, o povo tinha muito medo, policiais a paisana vinham gravar as homilias nas Missas e não podíamos ajudar os cristãos e outros perseguidos e ameaçados de perder o emprego e serem torturados nas prisões do DOPS.
Dom Jorge ajudou muito juntamente com Dom Paulo Evaristo Arns em São Paulo e muitos morreram, citando apenas o nome de Santo Dias da Silva.
Em 1.968 tinham chegado mais Filhos da Caridade, o padre Afonso, padre Bernardo, padre Carlos Tosar, padre Henrique e padre Cláudio. Mais tarde chegou a padre Ivo e também veio viver conosco o padre João Pedro Borderon que esperava o visto para entrar em Cuba, mas sem resposta, passou alguns anos no Brasil e depois recebeu o visto esperado.
Decidimos, com o acordo dos superiores, assumir paróquias na diocese de Santos: Santa Margarida no bairro de Areia Branca, Sagrada Família no Jardim Radio Clube e, alguns anos depois, em São Vicente na área do Joquei Clube e de Santa Margarida. Havia os que trabalhavam no ministério paroquial (padres Afonso, Claudio e Henrique) e 3 que trabalhavam em fábricas (padres Bernardo, Carlos e Ivo), manifestando assim a sua vontade de sentir na própria carne o sofrimento dos trabalhadores.
Na noite do Ato Institucional nº 5 (9 de dezembro de 1.968), a polícia política veio prender os 3 padres operários e os levou no batalhão de caçadores de São Vicente onde ficaram até o fim do mês. A intervenção do bispo de Santos Dom David Picão, conseguiu a sua libertação.
Foram anos difíceis: uma tentativa de formar um seminário com 3 jovens que queriam ser Filhos da Caridade fracassou porque foram denunciados no DOPS como perigosos subversivos.Tudo isso mostra o clima onde se realizava o trabalho pastoral, mas nunca faltou o apoio do povo: os padres eram e são ainda muito queridos.
Pe. José Mahon Fc.