sábado, 23 de julho de 2011

HISTÓRIA DOS FILHOS DA CARIDADE NO BRASIL


Parte 5...

Dom Jorge Marcos
No fim de 1.970 fomos falar com Dom Jorge dizendo que, com as mudanças sociais no bairro de Santa Terezinha, percebíamos que havia na região bairros muito mais pobres e que poderíamos deixar Santa Terezinha para bairros mais periféricos, de acordo com a nossa vocação. Dom Jorge aprovou o nosso desejo e foi assim que em fevereiro de 1.971 o padre Roberto começou no bairro de Guaraciaba em Santo André, na capela (futuramente paróquia) de São Geraldo.

Em junho do mesmo ano, o padre José começou uma nova paróquia no bairro do Parque das Américas em Mauá, e em setembro, quando deixamos Santa Terezinha, o padre Pedro foi enviado ao Jardim Zaira em Mauá. Embora separados, os 3 padres continuavam a trabalhar em conjunto, vivendo também a sua vida religiosa, mas as dificuldades aumentavam.

Não podemos deixar de lado a situação do povo, muito oprimido pela ditadura militar que tinha começado em 31 de março de 1964. Foram anos de muitas dificuldades com a polícia política (o DOPS) vigiando, havendo muitas reuniões clandestinas.

O padre Pedro chegou no Zaira quando muitos membros da comunidade estavam presos e torturados, o povo tinha muito medo, policiais a paisana vinham gravar as homilias nas Missas e não podíamos ajudar os cristãos e outros perseguidos e ameaçados de perder o emprego e serem torturados nas prisões do DOPS.

Dom Jorge ajudou muito juntamente com Dom Paulo Evaristo Arns em São Paulo e muitos morreram, citando apenas o nome de Santo Dias da Silva.

Em 1.968 tinham chegado mais Filhos da Caridade, o padre Afonso, padre Bernardo, padre Carlos Tosar, padre Henrique e padre Cláudio. Mais tarde chegou a padre Ivo e também veio viver conosco o padre João Pedro Borderon que esperava o visto para entrar em Cuba, mas sem resposta, passou alguns anos no Brasil e depois recebeu o visto esperado.

Decidimos, com o acordo dos superiores, assumir paróquias na diocese de Santos: Santa Margarida no bairro de Areia Branca, Sagrada Família no Jardim Radio Clube  e, alguns anos depois, em São Vicente na área do Joquei Clube e de Santa Margarida. Havia os que trabalhavam no ministério paroquial  (padres Afonso, Claudio e Henrique) e 3 que trabalhavam em fábricas (padres Bernardo, Carlos e Ivo), manifestando assim a sua vontade de sentir na própria carne o sofrimento dos trabalhadores.

Na noite do Ato Institucional nº 5 (9 de dezembro de 1.968), a polícia política veio prender os 3 padres operários e os levou no batalhão de caçadores de São Vicente onde ficaram até o fim do mês. A intervenção do bispo de Santos Dom David Picão, conseguiu a sua libertação.

Foram anos difíceis: uma tentativa de formar um seminário com 3 jovens que queriam ser Filhos da Caridade fracassou  porque foram denunciados no DOPS como perigosos subversivos.Tudo isso mostra o clima onde se realizava o trabalho pastoral, mas nunca  faltou o apoio do povo: os padres eram e são ainda muito queridos.
Pe. José Mahon Fc.